segunda-feira, 4 de abril de 2011

Ex-futuras-belas-tardes-de-outono


Ela sentou-se, um dia depois, na calçada onde eles costumavam ficar pela noite, depois que jantavam, até de madrugada. Lembrou de algumas conversas que aconteceram ali, e um sentimento de culpa começou a tomar espaço, mesmo que nada tivesse feito. Aproveitou a situação pra culpar-se também por um fato meio impossível de se evitar.
- Burra, imbecil! - Repetia e repetia. Era o fato de amá-lo. Mas não sei explicar o que houve, ela parou, deitou ali mesmo e silenciou. Tudo era bom justamente por aquilo de que se culpava. Se viu estranhamente satisfeita por sentir aquela coisa toda. O que teriam sido dos seus dias durante todo aquele ano, sem emoção alguma, a mesma merda de vida que ela não via graça? E quem é que teria feito o tempo passar tão depressa mas causando a impressão de que ia tudo muito devagar? E quem teria conquistado seu coração? Poderia muito bem ter sido outra pessoa, mas não foi. Simplesmente não foi, por que não era pra ser. Era ele mesmo. E aí ela deixou cair algumas lágrimas mas aquilo que ela tava sentindo era tipo de um alívio, eu não sei. Olhou pro céu tão escuro e sem nenhuma estrela, e repetiu várias vezes em um tom de voz extremamente baixo: - É ele que eu quero, é ele que eu amo...qual é o mistério? - E se eu não soubesse da história eu diria: lá vai ela, dormir tranquila, acordar de manhã cedo e bater na porta da casa dele bem no horário que ele acorda, agarrá-lo pelo pescoço e falar bem alto que o ama, e aí ele retribuirá com um beijo que ela nunca vai esquecer, sem precisar de mais nenhuma palavra, eles vão ser felizes para sempre! Utópico? É, não é bem o que eu acharia, mais seria o que eu no fundo desejaria... A única coisa que fez foi pensar que não queria mais ninguém, só ele, e decidiu que queria voltar às belas tardes de verão - que se transformariam em "belas tardes de outono", mas que não seriam mais tão belas assim, já que nem haveriam tantas, com tanto bla bla blá e coisas pra fazer, coisas de quem leva a vida muito a sério, de quem acha que não vai morrer. Tomou uma pequena atitude já criando uma enorme esperança, sem êxito, sem dar em nada, e sem tempo não conseguiu dizer, expressar, demonstrar. Quem dirá a verdade talvez seja o tempo, mas vá que ele minta. Só sei que ela gosta que seja ele, e isso a faz não querer mais esquecer como já quis.

Rafaela Schmitt

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