terça-feira, 21 de junho de 2011

Navegamos.

Não tem mais angústia. Não existe medo. Não tem dor explícita.

É tudo mais fácil. É tudo normal.

É o mundo, é o mundo, são as pessoas.




Simplesmente... ir embora. Podia ser tão fácil não podia? Ir embora. Ir embora. Daqui, dali, ir embora da rotina. Conhecer, descobrir. Ir embora.

Alguém me leva embora, só pra não perder tempo. Ir embora.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Natureza Viva (Caio F. Abreu)

Como você sabe, dirás feito um cego tateando, e dizer assim, supondo um conhecimento prévio, faria quem sabe o coração do outro adoçar um pouco até prosseguires, mas sem planejar, embora planejes há tanto tempo, farás coisas como acender o abajur do canto depois de apagar a luz mais forte no alto, criando um clima assim mais íntimo, mais acolhedor, que não haja tensão alguma no ar, mesmo que previamente saibas do inevitável das palmas molhadas de tuas mãos, do excesso de cigarros e qualquer coisa como um leve tremor que, esperas, não transparecerá em tua voz. Mas dirás assim, por exemplo, como você sabe, a gente, as pessoas infelizmente têm, temos, essa coisa, as emoções, mas te deténs, infelizmente? o outro talvez perguntaria por que infelizmente? então dirás rápido, para não te desviares demasiado do que estabeleceste, qualquer coisa como seria tão bom se pudéssemos nos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada, mas infelizmente, insistirás, infelizmente nós, a gente, as pessoas, têm, temos
- emoções
. Meditarias: as pessoas falam coisas, e por trás do que falam há o que sentem, e por trás do que sentem há o que são e nem sempre se mostra. Há os níveis não formulados, camadas imperceptíveis, fantasias que nem sempre controlamos, expectativas que quase nunca se cumprem e sobretudo, como dizias, emoções. Que nem se mostram. Por tudo isso, infelizmente, repetirás, insistirás completamente desesperado, e teu único apoio será a mão estendida que, passo a passo, raciocinas com penosa lucidez, através de cada palavra estarás quem sabe afastando para sempre. Mas já não sou capaz de me calar, talvez dirás então, descontrolado e um pouco mais dramático, porque meu silêncio já não é uma omissão, mas uma mentira. O outro te olhará com olhos vazios, não entendendo que teu ritmo acompanharia o desenrolar de uma paisagem interna absolutamente não verbalizável, desenhada traço a traço em cada minuto dos vários dias e tantas noites de todos aqueles meses anteriores, recuando até a data maldita ou bendita, ainda não ousaste definir, em que pela primeira vez o círculo magnético da existência de um, por acaso banal ou pura magia, interceptou o círculo do outro.
No silêncio que se faria, pensas, precisarás fazer alguma coisa como colocar um disco ou ensaiar um gesto, mas talvez não faças nada, pois ele continuará te olhando com seus olhos vazios no fundo dos quais procuras, mergulhador submarino, o indício mínimo de algum tesouro escondido para que possas voltar à tona com um sorriso nos lábios e as mãos repletas de pedras preciosas. Mas nesse silêncio que certamente se fará talvez acendas mais um cigarro, e com a seca boca cerrada sem nenhum sorriso, evitarias o mergulho para não correres o risco de encontrar uma fera adormecida. Teu coração baterá com força, sem que ninguém escute, e por um momento talvez imagines que poderias soltar os membros e simplesmente tocá-lo, como se assim conseguisses produzir uma espécie qualquer de encantamento que de repente iluminaria esta sala com aquela luz que tentas em vão descobrir também nele, enquanto dentro de ti ela se faz quase tangível de tão clara. Nítida luz que ele não vê, esse outro sentado a teu lado na sala levemente escurecida, onde os sons externos mal penetram, como se estivessem os dois presos numa bolha de ar, de tempo, de espaço, e novamente encherás o cálice com um pouco mais de vinho para que o líquido descendo por tua garganta trêmula vá ao encontro dessa claridade que tentas, precário, transformar em palavras luminosas para oferecer a ele. Que nada diz, e nada dirás, e sem saber por quê imaginas um extenso corredor escuro onde tateias feito cego, as mãos estendidas para o vazio, pressentindo o nada que tu mesmo prepararias agora, suicida meticuloso, através de silêncios mal tecidos e palavras inábeis, pobre coisa sedente, te feres, exigindo o poço alheio para saciar tua sede indivisível.
Anjos e demônios esvoaçariam coloridos pela sala, mas o caçador de borboletas permanece parado, olhando para a frente, um cigarro aceso na mão direita, um cálice de vinho na mão esquerda. A presença do outro latejaria a teu lado quase sangrando, como se o tivesses apunhalado com tua emoção não dita. Tuas mãos apoiadas em bengalas mentirosas não conseguiriam desvencilhar o gesto para romper essa espessa e invisível camada que te separa dele. Por um momento desejarás então acender a luz, dar uma gargalhada ridícula, acabar de vez com tudo isso, fácil fingir que tudo estaria bem, que nunca houve emoções, que não desejas tocá-lo, que o aceitas assim latejando amigo belo remoto, completamente independente de tua vontade e de todos esses teus informulados sentimentos. No momento seguinte, tão imediato que nascerá, gêmeo tardio, quase ao mesmo tempo que o anterior, desejarás depositar o cálice, apagar o cigarro e estender duas mãos limpas em direção a esse rosto que sequer te olha, absorvido na contemplação de sua própria paisagem interna. Mas indiferente à distância dele, quase violento, de repente queres violar com tua boca ardida de álcool e fumo essa outra boca a teu lado. Desejarás desvendar palmo a palmo esse corpo que há tanto tempo supões, com essa linguagem mesmo de história erótica para moças, até que tua língua tenha rompido todas as barreiras do medo e do nojo, subliterário e impudico continuas, até que tua boca voraz tenha bebido todos os líquidos, tuas narinas sugado todos os cheiros e, alquímico, os tenhas transmutado num só, o teu e o dele, juntos - luz apagada, clichê cinematográfico, peças brancas de roupa cintilando jogadas ao chão.
E desejá-lo assim, com todos os lugares-comuns do desejo, a esse outro tão íntimo que às vezes julgas desnecessário dizer alguma coisa, porque enganado supões que tu e ele vezenquando sejam um só, te encherá o corpo de uma força nova, como se uma poderosa energia brotasse de algum centro longínquo, há muito adormecido, todas as princesas de todos os contos de fada desfilam por tua cabeça, quem sabe dessa luz oculta, e é então que sentes claramente que ele não é tu e que tu não serás ele, esse ser, o outro, que mágico ou demoníaco, deliberado ou casual te inflama assim de tolos ardores juvenis, alucinando tua alma, que o delírio é tanto que até supões ter uma. Queres pedir a ele que simplesmente sendo, te mantenha nesse atormentado estado brilhante para que possas iluminá-lo também com teu toque, tua língua terna, a rija vara de condão de teu desejo. Mas ele nada sabe, nem saberá se permaneceres assim, temeroso de que uma palavra ou gesto desastrados seriam capazes de rasgar em pedaços essa trama onde te enleias cada vez mais sem remédio, emaranhado em ti e tuas ciladas, em tua viva emoção sintética a ponto de parecer real, emaranhado no desconhecido de dentro dele, o outro - que no lado oposto do sofá cruza as mãos sobre os joelhos, quase inocente, esperando atento e educado que de alguma forma termines o que começaste.
Muito mais que com amor ou qualquer outra forma tortuosa da paixão, será surpreso que o olharás agora, porque ele nada sabe de seu poder sobre ti, e neste exato momento poderias escolher entre torná-lo ciente de que dependes dele para que te ilumines ou escureças assim, intensamente, ou quem sabe orgulhoso negar-lhe o conhecimento desse estranho poder, para que não te estraçalhe entre as unhas agora calmamente postas em sossego, cruzadas nas pontas dos dedos sobre os joelhos.
Ah, fumarás demais, beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias desesperadas, noites e noites a fio permanecerás insone, a fantasia desenfreada e o sexo em brasa, dormirás dias adentro, noites afora, faltarás ao trabalho, escreverás cartas que não serão nunca enviadas, consultarás búzios, números, cartas e astros, pensarás em fugas e suicídios em cada minuto de cada novo dia, chorarás desamparado atravessando madrugadas em tua cama vazia, não conseguirás sorrir nem caminhar alheio pelas ruas sem descobrires em algum jeito alheio o jeito exato dele, em algum cheiro estranho o cheiro preciso dele.
Que não suspeitará da tua perdição, mergulhado como agora, a teu lado, na contemplação dessa paisagem interna onde não sabes sequer que lugar ocupas, e nem mesmo se estás nela. Na frente do espelho, nessas manhãs maldormidas, acompanharás com a ponta dos dedos o nascimento de novos fios brancos nas tuas têmporas, o percurso áspero e cada vez mais fundo dos negros vales lavrados sob teus olhos profundamente desencantados. Sabes de tudo sobre esse possível amargo futuro, sabes também que já não poderias voltar atrás, que estás inteiramente subjugado e as tuas palavras, sejam quais forem, não serão jamais sábias o suficiente para determinar que essa porta a ser aberta agora, logo após teres dito tudo, te conduza ao céu ou ao inferno. Mas sabes principalmente, com uma certa misericórdia doce por ti, por todos, que tudo passará um dia, quem sabe tão de repente quanto veio, ou lentamente, não importa. Por trás de todos os artifícios, só não saberás nunca que nesse exato momento tens a beleza insuportável da coisa inteiramente viva. Como um trapezista que só repara na ausência da rede após o salto lançado, acendes o abajur no canto da sala depois de apagar a luz mais forte no alto. E finalmente começas a falar.

domingo, 12 de junho de 2011





Mas tu é minha. Não é?
...
Não é?
Não.
Não?
Não.
Já deixei de ser, pensei.
Silêncio.


E o teu olhar me doeu tanto. Me doeu imensamente.

Por que a única coisa que eu queria era ser tua.
Pra sempre.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Chegando a lugar nenhum;

Sentados ali fora quando era mais ou menos umas vinte e duas horas e quinze minutos, eu toda encarangada de frio mas fingia que nem sentia - a verdade é que tava tão entretida naquelas ideias que nem me importava tanto com a noite gelada -, ouvia ouvia pensava considerava concordava e discordava. Ideias repetitivas, cansadas, coisas que as pessoas todas falam e discutem até não poder mais. Sabe esses negócios tipo trânsito, tipo evolução, tipo tecnologia, tipo liberação de maconha, tipo o prejuízo que a droga traz, tipo o mundo. Pra ser mais exata, tipo o Brasil em si.
Era dessas coisas que falavam e me faziam pensar e ver o meu certo e o meu errado, mas aí como um estalar de dedos me veio à cabeça uma pergunta: Afinal, qual é a moral de tudo isso? Não sei se eles acreditam que essas coisas ruins do Brasil vão mudar. Deu vontade de dizer: É assim mesmo que a gente vai viver, é nesse mesmo país, meus caros. Eu, particularmente, não confio nesse futuro que todo mundo espera/sonha um dia ter. De repente foi nisso que pensei e foi essa a minha convicção: O mundo não vai mudar. Tende a piorar, piorar, piorar. Mas há um motivo de tudo ser tão polêmico e apesar de abatido nunca deixado de lado, é que o futuro é extremamente incerto e as pessoas ainda acreditam que um dia vai deixar de ser esse inferno que já virou pra ser o mundo um lugar de paz e ai-ai-ai-ui-ui-ui. Eu sou mais realista, ou pessimista, se preferir.
O fato, no entanto, é que o tempo passa e tudo que percebemos é a regressão. Do país, da sociedade, de tudo. E cada vez menos a ética se mantém, e cada vez mais vemos tudo indo água-a-baixo, a consciência do ser-humano sumindo. Mas, assim que as coisas são. E tudo bem pra mim que as pessoas discutam e se importem (mesmo não sendo fortes o suficiente pra lutar pelo que se importam) com o que está acontecendo, mas tais discussões não trarão satisfação na prática. E se sim, é muito pouco.
Tenho certeza que temos aqui também muita coisa boa. No mundo e no Brasil. Mas nós sabemos o quanto as coisas ruins escondem as coisas boas, certo? Bom, tudo bem. Temos que rever as vezes os nossos conceitos e enxergar de todos os lados, expandir o máximo que pudermos a nossa mente quanto ao universo, quanto ao lugar que estamos prestes a passar o resto das nossas vidas.
Digo assim então, que levantei daquela cadeira como uma ridícula que graças ao senso comum escutou com tanto interesse tudo aquilo sendo que desde o início sabia que não tem saída, não assim, enquanto todo mundo estiver acomodado. E, como aponta o horóscopo, a comodidade é uma característica problema do Taurino.


Olá, sou do signo de Touro.


Rafaela Schmitt

Um pedido secreto e negado: Volta.

"Ficar bem nem sempre deixa outras opções. É estranho quando as coisas simplesmente têm de terminar. É o estágio onde todos os sentimentos já evoluíram para um nada. É o nada que você optou para parar de sentir dor. No início você briga, chora, faz drama mexicano. Então percebe que é cansativo demais manter esse jeito de levar as coisas. Acostuma-se.. Não que pare de doer, mas que cai no seu entendimento que às vezes perdemos algo e não há solução. No fim você coloca um sorriso no rosto e finge que é sincero, até que a vida o faça realmente ser. Talvez os amores eternos sejam amenos e os intensos, passageiros. É isso. "






É bem assim que acontece. É bem assim como eu penso. Essas palavras parecem tão minhas, tão minha vida, tão minha vontade. Mas lá bem no fundo no mesmo lugar onde houve um toque quando li meus pensamentos escritos por Caio, lá nesse mesmo lugar ainda guardo um pedido secreto e mentirosamente falso: Volta.
Mas não é dependência. É nostalgia. É falta, falta que sinto pra sempre. Não sei se falta é saudade. Tudo que eu sei com tanta certeza é que quero que tudo volte. Não vou e não vai voltar, mas era tudo que lá bem no fundo que nós sabemos, eu queria. Volta. Repete lá dentro. Volta. Volta volta volta. Lá dentro. Fica longe, fica longe longe longe. É oque fica na minha cabeça, não lá dentro.
Sabe essas noites tão frias que tem passado? Eu lembro quando a gente esperava elas há um tempo atrás. "Quero logo que chegue o inverno pra gente ficar junto." Agora, nada. E aí de noite, quando chega perto da hora de dormir eu fico pensando meu deus, como fazem faltas aqueles braços em volta de mim durante a noite. Como era bom, no verão, dormir junto, acordar um do lado do outro, no verão. Como seria bom se voltasse. E adivinha oque grita lá? Volta-volta-volta-e-fica-fica-fica-pra-sempre-aqui. É nostalgia e sentimento forte. Não é assim ó que vai passar. Mas eu vou acreditando que é, pra talvez daqui não muito tempo seja. De jeito ou doutro, sinto saudade e não vai embora. Sabe o que de verdade como é? Depois de ser o que é, tua alegria é o que me importa. É só isso.

quarta-feira, 1 de junho de 2011



Não vá olhar para trás
quando eu disser adeus.
Nós vamos deixar esse buraco para trás,
vou levar o que é meu esta noite.
Porque todos os dias perdidos
tornam-se chances desperdiçadas.



Simples e leve e solta


Me dei conta de que estava vazia, mas de um modo agradável; sem esperar por nada, nem da minha parte ou de nenhuma outra. Então, assim como quando surge uma nova ideia, uma coisa acendeu na minha cabeça e ouvi uma voz dizendo que não havia mais com o que me preocupar agora. Tão inevitavelmente me senti simples e leve e solta e tive vontade de aproveitar o máximo daquela sensação de "não estar querendo não existir".
Por que eu sei, assim como todos nós sabemos, que as coisas desse tipo se transformam em outras ou simplesmente passam. E eu não estava me importando com isso, o único desejo que tinha era que aquela vontade tão pacífica permanecesse por ali junto à mim um pouco mais.

Rafaela Schmitt.