Eram dias daquilo e não se acabava, igual a realidade, não havia lugar pra onde correr. Eu olhava pros lados e via o vazio e na minha cabeça só passava uma coisa: quantos já foram, quem já foi, qual é a moral? Eu não sei qual era o motivo daquilo estar ocorrendo, mas sabia que havia algum motivo. Na companhia da minha melhor amiga eu perguntei: Será que fulano já morreu? Isso tudo era tão inadimissível. Em alguns dias tanta vida se acabou. Queria ajudar, queria salvar, libertar, mas não podia, então eu tomava de uma angustia sem tamanho, e no final tudo que me restou foi desesperança, eu estava me acostumando, como se fosse absolutamente normal. Depois de sair de lá, fui até a casa de um amigo meu e com muito medo eu disse: Não, é melhor ficar em casa! Eu não vou morrer, mas não sabia a situação dele. Só que se eu tivesse lá na hora certa eu também morreria sim. Ele também achou melhor. E lá estava eu no dia seguinte, chegando àquele inferno. Não se podia ficar à 2 metros dos corpos sendo carregados. A dor me consumia inteira somente por saber que ali, todo aquele sangue e os corações que agora já não batiam mais, poderiam ser de pessoas que eu gostava. Poderiam ser de amigos meus. Que levavam grande parte minha embora, também. Era completamente triste e eu não entendo agora como é que eu não desisti. Tinha tudo pra desistir, mas por algum motivo isso nem passou pela minha cabeça. Em meio a esse caos eu caminhei e procurei pela minha sala, buscando saber quem havia morrido. E quando perguntei ao cara com cara de médico que tava sentado ali sobre será que ele teria de morrer, ele não tirou os olhos de mim, não respondeu e então eu acordei. E nada fazia sentido.
Rafaela Schmitt
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