sexta-feira, 9 de novembro de 2012

História de Julieta.



Julieta tinha 11 anos.
Julieta! Volta! Não sei onde ela se escondeu, olha atrás das cortinas (comprei aquelas cortinas há mais de dois anos, no dia 2 de novembro de 2005 pra ser mais exata, eu lembro pois era feriado e eu as comprei na volta pra casa do cemitério, onde fui visitar o túmulo da minha mãe, as cortinas eram estampadas com flores azuis e amarelas, eu gostava dessas coisas coloridas) ela deve estar por aí, debaixo do sofá, não, ela não cabe...
Julieta! Onde se meteu, criatura? Tu tem que vir, venha! A pulsação do meu coração deixava clara a minha preocupação, eu a cuidava, minha irmã. Nunca tinha sumido assim, e as cortinas vibravam com o vento na janela, olhando pra fora eu enxerguei as nuvens esconderem a luz do sol, "cadê essa menina?"

Julieta tinha 13 anos e já morria. Suspeitava de todo mundo e sempre se escondia. Não gostava do mundo e não gostava das vozes que ouvia. Todas as noites no escuro ela silenciava mas nunca dormia. Por isso sumia assim, ia pro bosque, se sentia mais segura por lá, amarrava-se na solidão e caia no sono durante o dia. Lia livros de madrugada, se questionava a cada frase, por que ele pensa assim, por que isso e por que aquilo, se olhava no espelho sem sorrir, as vezes passava horas olhando pela janela o luar, as estrelas e como sempre, se perguntava "por que não estou lá? o que mais há que eu não vejo?" e penteava o cabelo quando não tinha mais nada a fazer. Julieta tinha 13 anos como já disse, mas é uma história pra ser contada. Pois vivia em si, mesmo não conhecendo o mundo todo, seja intuição ou oque, ela sabia, que onde vivia não era nenhum paraíso, e também já não conseguia sorrir direito. Antes de rir ou sorrir ela sempre pensava duas vezes, na primeira era sobre as lágrimas de que ouvia falar na televisão, da realidade. Na segunda já não pensava...

Julieta!
Com apenas 15 anos, não suportou as dores dos outros e tanto desgosto. Amou a vida e talvez tivesse até começado a gostar também do mundo, mas ninguém quis deixá-la sobreviver. Julieta era racional e sentimentalista. Julieta era um ser humano de verdade. Por isso na data das cortinas coloridas, no dia 2 de novembro de 2011, ela morreu.

Desde então não se viu mais um olhar tão triste e bonito... e todos lamentaram.

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