terça-feira, 22 de novembro de 2011

Aqueles olhos

Aquela noite foi um inferno. Não sei que idade eu tinha, não lembro o dia nem que cor era o lençol da minha cama, mas tem isso que eu posso afirmar com  toda a certeza de um coração e uma alma romântica: aquela noite foi um inferno.
Acordei chorando no meio da madrugada, as luzes pareciam fogo e as bonecas me aterrorizavam. Eu o vi pela primeira vez naquela noite, e disso eu lembro  como se tivesse sido ontem: aqueles olhos escuros e fortes me observando e se aproximando lentamente, seus traços faciais apontavam uma expressão que eu não sabia definir, por que o que eu conseguia ver naquele rosto era muito mais do que apenas um sentimento, eu vi decepção, rancor, medo, angústia, ódio, desprezo, desconfiança, tristeza, solidão, e todas essas coisas ruins que é possível de perceber quando acontece com as pessoas.
Mas o que mais me apavorou, diante disso tudo, é que não houvesse amor. Nem se quer um minúsculo sinal de amor. E aqueles olhos continuavam me olhando, sem parar, como se alguma coisa quisessem me dizer, mas olhos não falam. Eu tinha a sensação de estar esperando que algo acontecesse comigo, algo como eu cair bem na frente dele de joelhos e começar a sangrar pelos olhos, pelos cabelos... mas não foi o que  aconteceu. Eu continuei intacta onde eu estava, sendo observada, e então comecei a sentir o que ele sentia. E então acabou. Foi a primeira vez que o vi, o dia que eu o conheci.
Devo lhes deixar claro, claríssimo, que mesmo sem entender nada, aquela foi a pior noite da minha vida.  Mesmo sem saber oque significava a maioria daquelas coisas que eu senti graças à ele, me doeu na alma reconhecer todo aquele sofrimento. Eu não sabia quem era, mas sabia que era.
Chorei durante todo o tempo depois que eu acordei e mais ainda me assustava aquele meu quarto mal iluminado por luzes que se pareciam com fogo e aquelas bonecas que me faziam sentir como se eu estivesse em um filme de terror. Fiquei desolada e sem saída, pensando nele com um osso de galinha na garganta. Se pelo menos ainda eu tivesse conseguido dormir mais um pouco antes do amanhecer.
Foram anos mais tarde que eu conheci um cara muito parecido com o cara do meu "sonho" inesquecível, que muito timidamente me olhou sorrindo e chegou mais perto dizendo que achava que me conhecia de algum lugar, e não era trova fácil, eu vi quando eu enxerguei aqueles olhos. Aqueles olhos. Eu sorri de volta, enquanto na minha cabeça só havia um pensamento "meu deus, como eu quis um dia poder ver esse sorriso, e que lindo".
O que ele pensou eu não sei, nunca cheguei a contar daquela noite, nunca perguntei da onde ele me conhecia também, pra manter essa ligação misteriosa e mais forte que o normal de hoje em dia. E agora eu não tenho mais medo, nem curiosidade, por que existe alguma coisa nele que me diz que não é preciso eu entender aquela noite dos infernos que eu passei na minha infância, e que eu tenho que confiar. Eu confio. Por um único motivo: quando ele me olha, não é decepção nem desprezo nem nada disso que eu vejo em seu rosto, oque eu vejo é amor.

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